Dia Mundial da Alimentação trata sobre qualidade de vida e hábitos saudáveis

Por: Larissa Martin

É comemorado nesta sexta-feira (16) o Dia Mundial da Alimentação e, quando pensamos em alimento, logo vem na cabeça sobre a importância em termos hábitos diários saudáveis. Celebrada desde a década de 80, a data traz uma reflexão sobre a necessidade e direito que o ser-humano precisa ter com uma dieta alimentar saudável, acessível e de qualidade. 

Os eventos neste dia acontecem em mais de 150 países, a fim de conscientizar e chamar a atenção para aqueles que sofrem com a fome, surgindo também a necessidade de informar a respeito de dietas nutritivas à toda a população global. Em 2020, o tema é "Cresça, alimente, sustente. Juntos", lançando um apelo à solidariedade global dentro de um cenário em que vivenciamos agora, com a pandemia de Covid-19, em que muitas famílias passam por dificuldades financeiras no momento e, consequentemente, alimentares. 

A nutricionista Heloisa Guarita, sócia-fundadora e Head da consultoria RG Nutri, conta para a gente a respeito da busca atual das pessoas por uma alimentação saudável, que junto do conceito “wellness”, diz respeito ao bem-estar individual como um todo. “Antigamente a gente falava em dieta de uma forma diferente. Depois, houve uma fase que tratava a funcionalidade dos alimentos, onde tínhamos que comer os coisas específicas ou as vitaminas específicas… e, hoje, quando a gente fala em ‘wellness’ estamos olhando para nós de uma forma muito mais holística, ou seja, olhando o bem-estar de uma forma geral, e isso significa a saúde emocional, social e física, juntas”, explica.  

De acordo com uma pesquisa deste ano da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Neste cenário, muitas pessoas nos últimos anos buscam um estilo de vida diferente da forma que viviam, se preocupando com a saúde alimentar e entendendo o que faz bem para o corpo. "O bem-estar vai muito mais além da ausência de doenças, por exemplo. É: como eu me sinto ao longo do meu tempo de vida, construindo no meu dia a dia ações, rituais saudáveis que mudam de fato o meu estado físico”, conta. “A alimentação está 100% dentro disso, mas, a gente entende que ela tem que estar associada a outros fatores que podem te dar qualidade todos os dias. A palavra ‘wellness’ engloba exatamente essa questão: o bem-estar físico, emocional, mental e, até mesmo, social”, completa. 

Heloisa alerta para algo muito comum na correria da rotina: a falta de cuidado em entender de onde vem o alimento que estamos comendo, atrapalhando a conexão que devemos ter com a comida. "Essa conexão é basicamente saber planejar a compra, fazer escolhas mais saudáveis e buscar alimentos que eu quero ter de fato dentro de casa, que vão compor o meu dia a dia". Segundo ela, o hábito de planejamento faz com que a dieta seja muito mais focada na qualidade e não apenas na necessidade de comer para ‘matar a fome’. "A primeira solução para uma alimentação saudável é a escolha. Isso vai levar à composição do prato como um todo. Há mil tipos de dietas, mil formas de compor uma refeição, havendo diferenças e necessidades individuais… Mas, um caminho legal de se pensar é sempre a opção de compra e conseguir planejar o que se come", acrescenta.  

A indústria de alimentos é extremamente importante e trouxe muitas soluções que facilitam a escolha do que colocamos em nosso prato, além de trazer segurança no caminho produtor-consumidor final. Mas, ao mesmo tempo que surgem as diferentes possibilidades para uma dieta balanceada, ela também deixou essas variedades mais distantes do alimento de origem. "O problema é que, ao longo do tempo, o alimento industrializado acabou gerando consequências ao colocar produtos neste alimento produzido em fábricas, que são os aditivos. Ao longo dos anos, foram sendo colocadas substâncias que dão mais consistência, sabor, textura e, que, por outro lado, não são muito naturais e saudáveis", conta. Além disso, o brasileiro passou a ter neste processo uma necessidade de muito mais sódio, açúcar e gordura na comida, em uma quantidade muito maior do que é necessária para o dia a dia, assim como os aditivos nos produtos industrializados. "Não é um alimento industrializado específico que faz mal, na verdade não é bom quando são vários no dia. Outra coisa são os alimentos que chamamos de 'caloria vazia', que são os que não têm muitos nutrientes importantes, possuem poucas fibras, proteínas e dão uma saciedade momentânea. Logo após, volta a necessidade de comer mais", completa. 

Em relação à questão alimentar no Brasil, um balanço do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) divulgado neste ano, avalia a insegurança alimentar do país no período entre 2017 e 2018. A pesquisa mostra que dos 68,9 milhões de domicílios do país, pelo menos 36,7% estavam com algum nível de insegurança alimentar, atingindo quase 85 milhões de pessoas. Na comparação com 2013, a última vez em que o tema foi investigado pelo IBGE, a prevalência de insegurança quanto ao acesso dos alimentos aumentou 62,4% nos lares brasileiros. Além disso, outro problema é o alto índice de obesidade no país, que, mesmo sendo antagônico em relação à insegurança alimentar, também deve ser lembrado como um problema social. "Não necessariamente essas populações que estão com sobrepeso são saudáveis, porque elas podem estar se alimentando com muitas calorias mas pouco nutrientes. O outro problema é o acesso ao alimento por populações mais carentes. A alimentação e a fome são direitos do cidadão, por isso, deve existir mais políticas públicas, movimentos, conexões, para que a gente possa erradicar a fome e todos possam comer de maneira saudável. É um assunto de extrema urgência e importância", explica Heloisa. 

No meio disso, surgem alguns movimentos que têm como objetivo combater a fome no país. Este é o caso do Marmitaço, que, devido ao Dia Mundial da Alimentação comemorado nesta sexta-feira, aproveita a data para a inclusão de ações sociais para pessoas em situação de vulnerabilidade. "O movimento surge para falar do direito e de melhores políticas públicas para essas populações. É um 'awareness' de entendimento do que está ocorrendo. Tem gente das grandes cidades e estados falando, discussões filosóficas e ações pontuais que tratam sobre a distribuição de alimentos. O objetivo é levantar essa bandeira", conta. Neste ano, o tema da campanha é a música "Gente", de Caetano Veloso, que diz: "Gente é pra brilhar e não pra morrer de fome". 

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